O Arquivo Hipertextual Nivalda Costa: Série de estudos cênicos sobre poder e espaço é parte integrante da pesquisa de doutorado, Série de Estudos Cênicos sobre poder e espaço, de Nivalda Costa: arquivo hipertextual, edição e estudo crítico-filológico, iniciada em março de 2015 e defendida em abril de 2019, no Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), sob a orientação da Profa. Dra. Rosa Borges, no âmbito do Grupo de Edição e Estudo de Textos (GEET), Equipe Textos Teatrais Censurados (ETTC).
Por meio da elaboração deste arquivo hipertextual, conforme concepção de Urbina et al. (2005), plataforma híbrida composta de edições e de documentos, em rede, cumprimos o objetivo de ampliar as possibilidades de dar a conhecer e a ler o dossiê da Série de estudos cênicos sobre poder e espaço (SECPE), que integra o Acervo Nivalda Costa (ANC), um dos acervos digitais do Arquivo Textos Teatrais Censurados (ATTC), bem como colocar em cena a intelectual, dramaturga e diretora baiana Nivalda Costa (1952-2016).
No lugar interdisciplinar da Filologia, ofertamos, para leitura, encenação e/ou estudo, em uma tendência editorial pragmática, diferentes modalidades de edições dos textos teatrais que constituem a SECPE, em sua relação com outros documentos, sobretudo da imprensa, da Censura e do espetáculo, possibilitando o conhecimento e a difusão de parte significativa da dramaturgia censurada de Nivalda Costa, bem como contribuindo com o processo de (re)construção e de preservação da história e da memória do teatro baiano, nordestino, brasileiro.
Este arquivo hipermídia é composto de cinco partes que se relacionam, a saber:
Nivalda Costa ao longo de sua vida desempenhou funções de pesquisadora, escritora (poetisa, contista, dramaturga, roteirista (na criação de roteiros de especiais e programas televisivos)), diretora, assistente de direção, atriz, autora, antropóloga, professora (de roteiro e de arte cênica), coordenadora pedagógica (de projetos de extensão e de centros culturais), assessora de comunicação social, videomaker, redatora de publicidade, produtora executiva e consultora de programa televisivo (COSTA, 2014).
Realizou o Curso de Formação de Ator, ofertado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), no período de 1972 a 1974, momento de articulação sociopolítica e cultural, de movimentos de contracultura, de afirmação dos valores de matriz afrodescendente e popular. De 1971 a 1984, após abandonar o curso de Psicologia, ingressou e graduou-se em Ciências Sociais, pela UFBA. De 1985 a 1986, cursou especialização em Antropologia, pela mesma instituição, e, em 1989, fez o Curso de Formação de Radialista, pelo Instituto de Radiodifusão do Estado da Bahia.
Nos anos 2000, retornou à universidade, especializando-se em Relações Públicas, de 2000 a 2001, ofertado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB); e, em 2003, fez o Curso de Formação de Roteirista, pela Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia. Na UNEB, ainda, participou, até 2016, do Grupo de Pesquisa de Estudos Africanos e Afro-brasileiros em Línguas e Culturas (CASTRO, 2018, informação verbal), formado em 2008, coordenado pela Profa. Dra. Yeda A. Pessoa de Castro e pelo Prof. Dr. César Costa Vitorino, com área de concentração em Ciências Humanas e Antropologia.
“[A]ntes de sermos negros, pertencemos [...] a uma raça pressupostamente humana. [...] [O] homem é quem cria os preconceitos [...], as invasões, as escravizações. [...] Eu parto do homem em seu estado de liberdade, [...], antes de ser negra e mulher, eu sou um ser humano. [...] [D]iscutimos muito isso com o movimento negro [...]. Todas as questões ligadas à conscientização racial eu acho que parte [...] por uma célula chamada educação, isso aí é essencial [...]” (COSTA, 2011, informação verbal).
Filha de Nair Silva Costa e Manoel Edvaldo Costa, Nivalda Silva Costa nasceu em 4 de maio de 1952, em Salvador, Bahia, “[...] onde viveu e se entregou aos estudos” (ASSEMBLEIA..., 2016). Aos 64 anos, foi vítima de um infarto fulminante, no dia 9 de julho de 2016, quando viajava a trabalho para a cidade de Feira de Santana, interior do estado da Bahia, em mais uma ação de formação cultural e política por meio de cursos e oficinas (SPAVIER; MOREIRA, 2016, informação verbal).
Nos poucos espaços nos quais se divulgou sua morte, em redes sociais e websites, Nivalda Costa é lembrada por sua significativa atuação como intelectual, antropóloga, líder religiosa, educadora e artista, mediadora social que contribuiu no que tange à cultura, arte, religiosidade e memória afro-brasileira. São ressaltadas, nas postagens, as figuras da pesquisadora e da intelectual de matriz afrodescendente que, a partir de pesquisas, leituras e estudos, mecanismo de produção discursiva, de produção de saber e de poder, contribuiu socialmente quanto a um processo contínuo de (des)articulação de determinada representação estética e ideológica.
Em diferentes momentos, Nivalda Costa, como uma intelectual negra, posicionou-se a favor da igualdade de direitos, contra posturas radicais e preconceituosas, militando, como uma intelectual negra, em defesa de uma racionalidade epistemológica e cultural diversificada, de uma visão do homem em perspectiva histórica e sociológica, de uma ampliação do acesso à educação para todos.
“[E]u era uma rebelde [...], estudante da Escola de Teatro com uma série de rebeldias, com uma série de resistências [...] ao aprendizado que se tinha por lá, [...] ao bom comportamento excessivo que se tinha por lá, que significava a ausência de atividade. [...] Esse bom [...] comportamento era absolutamente sem criatividade, [...] era uma elegia [...] ao teatro tradicional que me interessava somente como aprendizagem, como pesquisa, mas não [...] como ação, como elemento de criação [...]” Trecho de entrevista (COSTA, 2010, informação verbal).
Dentro e fora da Escola de Teatro da UFBA, na década de 1970, em meio a diferentes tendências estéticas e a movimentos socioculturais, Nivalda Costa realizou pesquisas por conta própria acerca, principalmente, do teatro épico de Brecht (de tendência ideológica e crítica, no qual se propaga a ruptura da ilusão teatral, e o teatro é transformado em tribuna), do teatro da crueldade, de Artaud (um teatro apresentação, com ênfase na formação do ator) e do teatro-laboratório, de Grotowski (teatro experimental, de vanguarda, com foco na formação do ator e na construção de personagens).
Essas propostas, que convergem no que tange à dessacralização do teatro clássico e à propagação de um teatro político, foram articuladas, cenicamente, na Série de estudos cênicos sobre poder e espaço (SECPE), materialização de uma plataforma crítica, de um programa de arte, interpretada por nós como prática de conhecimento, de resistência e de intervenção, parte da política de ação sociocultural inscrita na trajetória de Nivalda Costa. Na SECPE, a intelectual engajada, dramaturga criativa, diretora ousada, mobilizou os conceitos de “poder” e de “espaço” como dispositivos para discutir a realidade sociopolítica e histórica, entrecruzando as dimensões crítica e ficcional, em uma prática teatral subversiva e colaborativa.
A dramaturgia desenvolvida como um modo de intervenção artístico-cultural e sociopolítica configurou-se por meio de um trabalho coletivo, firmado por muitos sujeitos, estudantes universitários e profissionais, que atuaram no Grupo de Experiências Artísticas, Grupo Testa, fundado em 1975 por Nivalda Costa (BORGES, 17 jun. 1975, p. 9).
Os membros do grupo, de ideologia revolucionária, que se definiam como guerrilheiros, “[...] considera[va]m-se na vanguarda do teatro baiano [...]” (QUATRO..., 1975, p. 11) e tinham como principais objetivos denunciar injustiças sociais, promover uma renovação estética e reivindicar a posição do negro no teatro e na sociedade (COSTA, 1999 apud DOUXAMI, 2001).
O Testa era um grupo de teatro amador formado por membros não permanentes reunidos por Nivalda Costa que assumiu o lugar de dramaturga, responsável pelo texto, e de diretora, contemplando as tarefas de diretora-administradora, na articulação com os órgãos de Censura, na busca por patrocinadores e/ou colaboradores, nos contratos de aluguel de espaços, no fechamento de temporadas etc.; de diretora de ator e de diretora de cena, esta última em parceria com outros profissionais.
O teatro, para o Testa, era espaço de criação e de atuação política, de arriscar e de experimentar sentidos, apesar da dificuldade, da Censura, da insegurança e do medo.
Apresentamos os documentos do dossiê da Série de estudos cênicos sobre poder e espaço (SECPE), parte do Acervo Nivalda Costa (ANC), provenientes de diferentes arquivos/acervos, em sub-dossiês correspondentes aos seis textos teatrais que compõem a série, Anatomia das feras, Aprender a nada-r, Casa de cães amestrados, Ciropédia ou A iniciação do príncipe, O pequeno príncipe, Glub! Estória de um espanto e Vegetal vigiado.
Os documentos foram catalogados por série e subsérie, conforme metodologia construída pela Equipe Textos Teatrais Censurados (ETTC) com base no Manual de Organização do Acervo Literário de Érico Veríssimo, de Bordini (1994). São dez séries: 01 Produção Intelectual; 02 Publicações na Imprensa e em Diversas Mídias; 03 Documentação Censória; 04 Esboços, Notas e Rascunhos; 05 Documentos Audiovisuais e Digitais; 06 Correspondência; 07 Memorabilia; 08 Adaptações e Traduções; 09 Estudos; 10 Varia (TUTORIAL..., 2016; SANTOS, 2018).
Além disso, oportunizamos uma leitura do dossiê da SECPE de modo integrado ao ANC, por meio de inventário, instrumento de pesquisa para melhor identificar e rastrear os documentos.
Construímos este arquivo hipertextual do dossiê da Série de estudos cênicos sobre poder e espaço (SECPE) com o auxílio de um analista de sistemas e de uma designer gráfica, fundamentados nos princípios definidos por Peter Shillingsburg (1993) para a elaboração de edições eletrônicas, a partir dos modelos editoriais hipermídia desenvolvidos, principalmente, por Almeida (2014), Mota (2017) e Correia (2018).
Oferecemos diferentes modalidades de edição dos textos da série, fac-similar (reprodução digital dos testemunhos), interpretativa, crítica e sinóptico-crítica (modelo hipermídia e modelo de impressão). Saiba mais sobre a SECPE e os textos que a compõem e sobre as edições e os critérios de apresentação e/ou para acessar as diferentes edições posicione o cursor sobre o texto que deseja ler e escolha a edição a visualizar.
Oferecemos duas modalidades de edição, fac-similar e crítica, baseadas em dois testemunhos de Anatomia das feras, datiloscritos datados de 1978: uma das cópias/vias do texto com cortes realizados pela Censura Federal, com 11 folhas, e um datiloscrito não submetido aos órgãos de Censura, com 12 folhas.
A edição fac-similar apresenta a reprodução digital do texto de cada um dos testemunhos isoladamente, sendo dois, cópias/vias do texto que integram o processo censório da peça.
A edição crítica (em formato de impressão), desenvolvida durante o mestrado, apresenta o texto crítico sem aparatos.
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Edição fac-similar digital (Testemunho 1)
Oferecemos duas modalidades de edição, fac-similar e crítica, baseadas em dois testemunhos de Aprender a nada-r, dois datiloscritos datados de 1975: uma das cópias/vias do texto com cortes realizados pela Censura Federal, com 9 folhas, e um texto compósito, incompleto, com 7 folhas.
A edição fac-similar apresenta a reprodução digital do texto de cada um dos testemunhos isoladamente.
A edição crítica, que tem como texto de base o testemunho submetido aos órgãos de Censura, apresenta três propostas que compõem o texto editado, “texto crítico”, “revisões ao texto” e “construção do texto” (no formato hipermídia) e o texto crítico sem aparatos (no formato de impressão).
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Edição fac-similar digital (Testemunho 1)Oferecemos edição fac-similar digital dos dois testemunhos de Casa de cães amestrados: um datiloscrito e uma reprodução datiloscrita, duas das três vias do texto encaminhado à Censura, em 1980.
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Edição fac-similar digital (Testemunho 1)Oferecemos edição fac-similar digital dos dois testemunhos de Ciropédia ou A iniciação do príncipe, O pequeno príncipe: um datiloscrito, 13 folhas, com campanhas de reescrita e de revisão autorais, e uma reprodução datiloscrita, com 15 folhas, uma das três vias do texto encaminhado à Censura Federal, em 1976.
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Edição fac-similar digital (Testemunho 1)
Oferecemos duas modalidades de edição, fac-similar e interpretativa, baseadas em dois testemunhos de Glub! Estória de um espanto: um datiloscrito e uma reprodução datiloscrita, duas das três vias do texto encaminhado à Censura Federal, em 1979.
Apresentamos edição fac-similar, reprodução digital do texto de cada um dos testemunhos isoladamente.
A edição interpretativa expõe comentários sobre a construção e a história do texto por meio de links (no formato hipermídia) e o texto crítico sem aparatos (no formato de impressão).
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Edição fac-similar digital (Testemunho 1)
Oferecemos duas modalidades de edição, fac-similar e sinóptico-crítica, baseadas em duas versões de Vegetal vigiado: um datiloscrito, com 10 folhas, datado de 1977, submetido à Censura Federal, e um datiloscrito à máquina elétrica, com 16 folhas, datado de 1978.
Apresentamos edição fac-similar, reprodução digital do texto de cada uma dessas versões isoladamente, e também de uma cópia/via do texto de 1977.
A edição sinóptico-crítica expõe as transcrições das duas versões lado a lado, confrontando suas diferenças e apresentando comentários por meio de links (no formato hipermídia) ou de notas (no formato de impressão).
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Edição fac-similar digital (Testemunhos 1 e 3)Seu comentário é importante para o nosso trabalho. Deixe-o aqui ou, se preferir, envie-nos um e-mail.